quarta-feira, 27 de maio de 2009

Fim de semana com os novos amigos



Sempre tive vontade de conhecer os famosos moradores de rua e suas fantásticas histórias. Sempre achei que a verdadeira sabedoria e os maiores filósofos estavam pelas ruas vivendo sua filosofia e não trancados em suas casas vivendo suas inúteis vidas. Além do mais, os poucos hippies que sobraram vivem quase todos pelas ruas.
Há uns tempos atrais, eu estava com uma idéia maluca de ir visitar uns mendigos e ficar la uns tempo pra ver como é a vida dos cara. Sempre achei que nunca teria coragem pra fazer isso, querer conhecer mendigos não é uma coisa muito normal de se fazer. Mas com álcool no sangue, consigo juntar coragem até para lutar contra o exército soviético, visitar filósofos de rua (mendigos) depois de algumas cervejas seria algo fácil.
O problema era arrumar dinheiro pra comprar as cervejas. Tive que catar latinhas por 2 dias e ainda encher elas de areia pra poder ganhar o dinheiro. Achei que seria legal levar umas pingas junto na hora de ir fazer a visita. Então no lugar de comprar cerveja, comprei um monte daquelas pinga bem vagabunda de 1 real.
No sábado resolvi ir lá visita-los. Nem sabia aonde encontrar mendigos, dei varias voltas pelo centro da cidade até encontrar um cara que aparentava ser um morador de rua, então contei a ele o que eu queria fazer e se ele sabia onde encontrar os mendigos. O cara deu umas risadas de mim, mas pelo ele me falou onde tinha um abrigo para moradores de rua.
Chegando lá, tentei agir com normalidade e fingindo que já conhecia todo mundo. Não deu muito certo isso, acho que eles não recebem visitas com muita frequência, todo mundo ficou me olhando como se eu fosse alguma espécie de alienígena.
Foi só verem que eu trazia pinga suficiente pra deixar todo mundo no abrigo podre de bêbados, que já começaram a se descontrair. Enquanto eu ia servindo a pinga fui contando que estava ali apenas para beber e conhecer a galera. No inicio os cara só bebiam e não falavam quase nada, mas foi só o álcool começar a fazer efeito que a galera já começou a soltar, não demorou muito e todos começaram a agir normalmente como se não tivesse um estranho entre eles.  Eu também já estava bem bêbado, então comecei a tentar se enturmar e a conhecer as histórias do pessoal. 
Conheci varias pessoas e histórias, mas vou contar apenas o que eu achei mais importante para não prolongar muito o texto. O cara mais estranho do abrigo era um tal de Augusto que se dizia ser um veterano de guerra, ninguém sabia em que guerra ele tinha lutado, mas ele jurou que participou de varias guerras e mostrou algumas secatrizes de balas que mais se pareciam ser apenas sujeira por falta de banho, mas mesmo assim fingi estar impressionado. 
Outra pessoa que não posso deixar de citar é o "Lobo da Noite", um verdadeiro hippie das antigas, o cara já tinha seus 58 anos, mas mesmo assim era conhecido por ser o maior pegador do abrigo. Ele tinha algumas sequelas pelo uso de vários alucinógenos durante anos, mas não era nada de mais. O que marcava mesmo nele era a calma e as conversas sobre dilatação da mente. Quando ele não estava se agarrando com alguma coroa, quase sempre estava tendo empolgantes conversas sobre filosofia com Moisés. Outra coisa que nunca vou esquecer vai ser a mulher que o "Lobo da Noite" tentou arrumar pra mim, a mulher devia ter uns 45 anos e lhe faltavam vários dentes na boca, até que ela não era de se jogar fora, mesmo assim preferi dispensa-la.
Moisés era o mais sábio entre os moradores do abrigo. Quando jovem ele morava próximo de uma universidade, como era muito carismático acabou ficando amigo dos alunos, a casa de Moisés era usadas pelos alunos para festas, em troca eles levavam livros de filosofia e alguns outros que Moisés pedia. Com o passar dos anos os alunos se formavam e  Moisés conhecia novos alunos, depois de alguns anos Moisés já se tornava mais sábio do que os alunos e até mesmo do que os professores. Depois de pedir demissão do emprego foi morar nas ruas e acabou vindo para neste abrigo. 
Moisés era uma boa pessoa para se conversar e cheio de teorias estranhas. No meio de uma conversa ele me perguntou:
- Tu sabe qual é o meio de transporte mais rápido de todos?
- Sei lá - falei meio que surpreendido.
- São as pernas -disse ele confiante.
- Tu consegue correr mais rápido do que carros e ônibus?- perguntei rindo
- Claro que não. Mas até tu arrumar um emprego e trabalhar para ter o dinheiro de comprar um passe de ônibus ou um carro, eu já terei chegado no lugar bem antes de tu.
- É, faz sentido isso- falei rindo junto com todo mundo.
Eu queria ficar mas tempo no abrigo pra ouvir mais dessas teorias. Mas já estava amanhecendo e achei melhor ir pra casa.
Antes de ir embora fiz a burrice de perguntar pra todo mundo se tinham orkut. Acho que os mendigos não são grandes fã da internet.

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